sábado, 16 de janeiro de 2010


Iniciamos em 2009 um estudo muito interessante: ECONOVIDA.

Através de Teorias Econômicas podemos explicar a busca sem fim do ser humano pela felicidade. Espero que esse grupo de estudo retome suas atividades em 2010. Esse ano a Santa Cruz vai ter o registro de um ano muito ativo com os futuros economistas!

Abaixo o artigo publicado na Gazeta do Povo em 03/04/2009 pelo meu querido professor e amigo Dr. Hugo Eduardo Meza Pinto, diretor da minha faculdade Santa Cruz.


Econovida

Muita gente tem aversão quando ouve falar de economia ou de economistas. Principalmente as pessoas que acreditam que a economia está ligada à crise ou ao desequilíbrio. Há uma piada que diz que a primeira profissão no mundo foi a do economista porque no início tudo era um caos. Embora essa tirada seja engraçada, esconde um preconceito muito comum. Afinal, é melhor dizer que determinada ciência ou conhecimento é difícil ou incompreensível do que tentar entendê-la.

Assim, a economia vai se tornando uma ciência elitista dominada por poucos. Já viram como tem tanto ex “alguma coisa” dando opiniões sobre a economia? Poderíamos perguntar para essas pessoas por que nos seus mandatos eles não fizeram nada daquilo do que estão propondo agora. Se houver resposta (aliás, nós, economistas, sempre temos resposta para tudo) seria do tipo: “os tempos são outros”, “a realidade mudou” etc. Nada disso justifica o fato de que nesse caso é “melhor fazer o que se fala e não fazer o que já se fez”.

Outro problema que justifica a aversão à economia é o uso do economês. Entendido como língua que somente os economistas entendem e falam, esse dialeto é usado e abusado para explicar desde coisas complexas, como a crise financeira, até o modo de proceder para realizar uma simples aplicação na poupança. Desconfio que nós, economistas, falamos economês para tentar mostrar aos leigos que somos mais inteligentes ou que dominamos o assunto. O resultado desse vício é o aumento da aversão pela economia e pelos economistas. Como mudar isso?

Em 2004 o economista americano Steven Levitt e o jornalista, também americano, Stephen J. Dubner se juntaram para lançar o livro Freakonomics – o lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta. Com uma linguagem acessível, sem chegar a ser simplista, os autores abordaram assuntos da vida das pessoas comuns e os ligaram à economia. Um das perguntas que fizeram e responderam foi: o que mata mais crianças nos EUA: ter uma arma em casa ou uma piscina? Ter uma piscina é a resposta. Mas não se chegou com base em achismos ou palpites e sim a partir da análise de dados e indicadores de mortalidade de crianças americanas por acidente nas suas próprias casas. O livro foi um marco para mostrar às pessoas comuns que a economia, se bem usada, pode explicar desde situações do dia-a-dia a casos complexos. Depois desse livro surgiria a área da economia destinada a entender de forma simples e clara a vida das pessoas e seu relacionamento com o meio que as envolve. Essa área foi batizada como economia empírica. Atualmente, existe uma ampla literatura sobre o tema – felizmente para a imagem de nós, economistas chatos.

A economia, como toda ciência, nos permite circular entre a abstração teórica e a realidade aplicada, é só fazer o esforço de enquadrar e focar a análise. Assim como o fizeram os gênios Albert Einstein (físico), Louis Pasteur (químico), Stephen Hawking (físico), dentre outros, é possível usar a teoria para explicar fatos concretos de forma direta e simples sem chegar a ser confuso e complexo demais. Esse esforço tem de ser realizado por todos nós.

A economia pode servir também para explicar coisas singelas e, ao mesmo tempo, importantes como, por exemplo, a vida.

No século XVIII, uns economistas identificados como clássicos, disseram que um dos objetivos do ser humano era maximizar o seu bem-estar; mas para chegar a esse estágio, todos nós teríamos de realizar escolhas, já que nossos desejos sempre seriam ilimitados ao contrário dos recursos que, sim, seriam limitados. O tipo de escolhas, portanto, seria vital para maximizar o bem-estar procurado, seja individual ou coletivo. Esses economistas também nos ensinaram que há uma contradição entre o lazer e o trabalho. Na medida em que trabalharmos mais, nos sobrará menos tempo para o lazer. Se optarmos pelo inverso, quanto menos trabalho, mais tempo para o lazer teremos. Porém, com menos dinheiro para poder desfrutar disso. Nesse sentido, a procura pela felicidade e o bem-estar seria um árduo e incansável labor de escolhas diárias. Essas escolhas não precisam ser eminentemente racionais ou irracionais, simplesmente devem procurar nossa felicidade.

Como cada um de nós possui um modo particular de ver a felicidade, cabe a cada um de nós procurá-la da nossa forma. No século XIX, o sociólogo Karl Marx contribuiu sobremaneira com a procura do entendimento da sociedade identificando o homem como um ser social histórico com capacidade de trabalhar e desenvolver a produtividade do trabalho. Esse fato possibilitaria o progresso de sua emancipação da escassez da natureza, o que proporcionaria o desenvolvimento das potencialidades humanas. Mas, para Marx, essa procura pela felicidade estaria sempre caracterizada pela luta entre trabalhadores e os donos do poder e do capital. Já no início do século XX, o economista John Maynard Keynes entendia que o meio sempre tenderia ao desequilíbrio, ou seja, para encontrar o bem-estar seriam necessárias forças externas, já que o simples fato de realizar boas escolhas não garantiria o equilíbrio. Obviamente, os conceitos acima citados tiveram um forte cunho econômico, mas, em um esforço mais amplo, podemos utilizá-los para tratar da vida.

Longe de ser enfadonha, a economia nos ensina de qualquer maneira, seja de forma abstrata ou aplicada, a interpretar o que todos nós temos de mais precioso: nossas vidas.


Hugo Eduardo Meza Pinto é professor e coordenador do curso de Ciências Econômicas das Faculdades Integradas Santa Cruz de Curitiba.

Nenhum comentário: