sábado, 12 de dezembro de 2009

Filosofia na telona

O filósofo francês Olivier Pourriol mistura Forrest Gump com Descartes

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O que Brad Pitt, Tom Cruise e Keanu Reeves têm a ver com Descartes, Spinoza ou Kant? Nas palestras do francês Ollivier Pourriol, os personagens interpretados por esses atores em filmes como Clube da Luta, Colateral e Matrix ajudam a compreender filosofia. Pourriol, 37 anos, largou as salas de aula tradicionais e há quatro anos faz palestras buscando no cinema a ilustração das ideias dos grandes pensadores. É assim que o personagem de Tom Hanks em Forrest Gump, com sua corrida para lugar nenhum, nos ajuda a compreender a diferença, segundo René Descartes, entre a capacidade de entendimento, que é finita, e a vontade, que é ilimitada.

Essa e outras cenas estão registradas no livro Cinefilô - As Mais Belas Questões da Filosofia no Cinema. Pourriol é um apaixonado por filmes, livros e filosofia, mas sem radicalismos. "Eu não pratico filosofia por curiosidade, mas para viver melhor", explica. Em meio a suas palestras, e enquanto não sai o segundo livro sobre filosofia e cinema, ele apronta um script baseado na obra La Isla de los Hombres Solos, de Jose Leon Sanchez. E, desta vez, nem Luis Buñuel, nem Clint Eastwood. Quem vai dirigir o filme é o próprio Pourriol. Afinal, se pensar é arriscar-se, como diriam seus amigos filósofos, ele está pronto para colocar em prática os ensinamentos dos mestres.

Como você começou a usar cinema em suas palestras?
Dava aulas normais para o ensino médio, mas achava os textos muito abstratos e distantes do dia a dia, por causa da linguagem. Achava que a filosofia tinha de ir além das aulas e se voltar mais para a vida. E a conexão entre mim e meus estudantes eram os filmes. Todo mundo vai ao cinema e todos, no mundo, podem ver o mesmo filme.

Como é a escolha dos filmes?
Eu escolho filmes de que gosto, outros que pessoas me recomendaram. Tentei fazer uma mistura e tornar o mais surpreendente e claro possível. Filmes como Clube da Luta e X-Men eu gosto muito. Outros, como Matrix, não gosto, mas permitem fazer a conexão com Descartes. O cinema é uma arte abstrata. Um pouco como na psicanálise ou psiquiatria, ela tem arquétipos. Forrest Gump é alguém com pouca capacidade de entendimento, mas muito desejo. É uma figura abstrata, como o triângulo, o círculo. Pode-se usar a ficção para tentar descrever algo, entender a realidade.

Você acredita que seus cursos promovem mudanças de comportamento?
Meus "estudantes" são as pessoas que pagam pelo ingresso. Eles têm entre 12 anos e 85 anos de idade. Não é como uma escola, não há provas. Eles são livres para vir quando quiserem, para fazer perguntas. Então as reações são surpreendentes. Alguns vêm nas palestras há três ou quatro anos. Uma vez fiz uma palestra sobre o que é uma família e usei filmes como A Guerra dos Mundos, de Steven Spielberg, Marcas da Violência, de David Cronenberg, e Pequena Miss Sunshine, de Jonathan Dayton e Valerie Faris. Um ano depois, um pai veio falar comigo e disse: "Sabe, eu tinha deixado minha família. Minha filha tinha 7 anos. Eu assisti a sua palestra, e decidi voltar para minha mulher e filha". Para essa pessoa o efeito foi muito forte.

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